2023: revendo meus papéis

Já aviso que esse post vai ser caótico. Há um tempinho, eu parei para refletir sobre o quanto o ano de 2023 foi um ponto de virada: na minha vida, com a chegada dos meus 30 anos, e na minha carreira, já que eu decidi que dessa vez eu iria acreditar em mim incondicionalmente, e ia dar ouvidos às coisas boas que os outros falavam ao meu respeito. E não é que as coisas realmente… mudaram? Pra melhor? E junto veio aquele sentimento de… por que diabos eu não comecei antes? Esse vai ser o post de fechamento de ano deste blog (porque o outro que eu estava escrevendo sobre Code Reviews ainda vai levar um bocado de tempo) e eu espero que gostem de ler sobre o meu 2023: revendo meus papéis.

É tão estranho ser meu próprio exemplo.

Sobre saber o seu valor (e a cotação ser euro)

Em 2018 eu comecei a trabalhar em uma nova empresa. No projeto onde fui alocada, a relação dos programadores com o cliente (que eram as pessoas de produto) era muito próxima. Eram eles que nos passavam as instruções, tiravam as dúvidas que tínhamos, aprovavam os mais ínfimos detalhes de cada tela, etc. Desde quando cheguei ali e desenvolvi o meu primeiro PDI [plano de desenvolvimento individual], havia como objetivo fortalecer as minhas capacidades de comunicação e de relacionamento pessoal.

Eu passei 7 meses nessa empresa. E durante todo o tempo que fiquei ali, eu nunca fui boa o suficiente em me comunicar.

E não porque eu sentisse isso, mas porque a minha atenção foi chamada durante todo esse tempo. Apesar dos cursos, dos livros, de imitar a maneira que meus colegas falavam e mandavam emails… nada era o suficiente para esse cliente tão delicado e frágil. Continuamente eu era cobrada sobre as minhas habilidades de comunicação, que estavam sempre aquém do que era esperado.

Passou. Já estou duas empresas na frente.

E sabe o que eu ouvi esses dias, na minha empresa atual? Durante o trabalho que faço junto ao comitê de Diversidade, Equidade e Inclusão, ouvi que sou a “Communication Guru”.

Sabe o que eu mudei desde aquele 2018? Pois é, de empresa. De ambiente.

Hoje minhas habilidades de comunicação são elogiadas e sou constantemente responsável pelos posts informativos do comitê de DE&I, além de ser referência quando outra pessoa precisa fazer um desses e precisa de um guia.

Sabe aquele post super clichê de LinkedIn: a água custa R$1 no mercado, R$5 no restaurante e R$10 no aeroporto? Pois é. Agora eu entendi.


Sobre entender que eu também pertenço (e a minha volta pra academia)

Nesse ano, eu desenvolvi um prazer estranho. Muitas pessoas talvez não entendam e me julguem… e tudo bem, porque, no começo, eu também me julguei. Acontece sempre quando começamos coisas novas que desafiam como olhamos para nós mesmos, certo?

Eu comecei a estudar matemática… por prazer.

Antes, um histórico…

Pra quem me viu passar (especialmente) pelo ensino médio, sabe que matemática num geral era um trauma na minha vida. Não exatamente a matemática em si; eu particularmente era bem boa em resolver exercícios e entender as coisas. Porém eu tive uma professora terrível: perseguições, implicâncias, um certo sadismo da parte dela… hoje eu consigo entender que foi um certo assédio moral que rolou ali. Ela me fez acreditar que eu era burra (usou essa palavra dentro do ambiente escolar, inclusive) e que eu não servia pros números. E durante um tempo, eu acreditei nisso.

Na faculdade, mesmo com provas e avaliações, eu vi que, bem… eu não era tão burra assim. Não tive nenhuma reprova nas matérias relacionadas à matemática (Cálculo I e II, Estatística e Estatística Inferencial, Métodos Numéricos, etc), tive um professor de Cálculo I maravilhoso que eu provavelmente não vou esquecer nunca (Vicentão ♥), além de confiar mais na minha querida Tia Beth, que além de madrinha também ocupou o cargo de minha professora particular quando eu tinha dúvidas ♥

E chegou 2023

Esse ano, decidi pegar uma cópia do querido livro de Cálculo A da Flemming e Gonçalves (meu favorito da biblioteca da UNESP ♥) e estudá-lo. Simplesmente porque sim. Resolvi vários exercícios e passei pelos primeiros dois capítulos sobre Funções e Domínio. E foi muito divertido.

E aí como eu não sei sossegar, fui procurar sarna pra me coçar: será que tem alguma pós-graduação que eu possa fazer relacionado à isso?

Encontrei um Mestrado em Estatística, Matemática e Computação na Universidade Aberta. Um curso totalmente remoto, que eu poderia fazer em tempo parcial (ou seja, não pegar todas as matérias logo de cara), e que eu podia pagar. Perfeito! ♥ (não é publi, mas aceito bolsas)

Eu que sempre ri na cara dos graus acadêmicos pós-graduação, achando que não valiam a pena, voltei pra academia e sou uma mestranda em matemática. Até hoje me parece um tanto surreal: vou ser mestra, estou em paz quando faço exercícios de Álgebra e me vejo empolgada pelo que o curso promete.

Eu não sou burra não. Mas se tiver alguém querendo seguir acreditando nisso, saiba que pra vocês serei a Burra Mestre.


Sobre o progresso não ser linear (mas ser crescente)

Um dos mantras da sabedoria popular que eu tento encaixar na minha vida é o famoso Feito é melhor do que perfeito. Mas puta merda, como é difícil.

Eu sou a minha maior carrasca e, ao contrário de muita gente, eu não tenho orgulho disso. Consigo ser super compreensiva com outros, mas quando eu olho pra mim mesma, pras minhas dificuldades e pras minhas conquistas, eu fico sempre: meh.

Sempre vem aqueles pensamentos: eu poderia ter sido mais forte. Eu poderia ter conseguido mais. Ao mesmo tempo, vem outra voz dentro da minha cabeça: MAIS FORTE?! PORRA, CÊ TÁ ACHANDO POUCO?!

Enfim.

Mas a partir de 2023, eu comecei a priorizar o fazer, o começar, o tentar… Em vez de seguir com alguns dos mesmos comportamento que funcionaram até aqui, mas agora já não funcionam mais.

Comecei a me impor mais, a levantar a voz e até a pedir ajuda! Reconhecer todas as coisas boas que fiz e entender que tropeços na caminhada acontecem, mas que a gente levanta e segue em frente. E no fim das contas, descobri que esse negócio de ter autoconfiança e orgulho de mim mesma é gostoso DEMAIS. é por isso que tanta gente bosta no mundo sustenta essa merda

Esse ano eu tive uns revezes brabos. Que doeram mesmo e que me fez questionar muitas coisas, inclusive se essa mudança de olhar e de atitude valeram mesmo a pena. Que confirmaram a minha visão pessimista de que o mundo é injusto e que meus esforços não resultam. Mas… acho que estou determinada em seguir em frente. Porque, por mais que meu progresso não seja linear, ele segue em uma curva crescente para cima.

Uma hora, eu acho que chego lá. Talvez tendo que me esforçar o dobro ou o triplo, mas acho que chego.

2024: em frente, com bravura

E eu confesso que mal posso esperar por 2024. Eu ainda não sei muito bem o que esperar desse ano que se aproxima, e também não sei quais mudanças comportamentais me aguardam… mas sei que vai ter. Sempre tem.

E eu tô ansiosa para que comece.

A frase que coloquei no meu planner desse ano é: em frente, com bravura. E por mais que às vezes eu precise de uns 10 minutos de choro, ou de uma torrente de maldições à outras pessoas, hoje eu vejo que meu movimento em relação ao “chegar lá” é ascendente. E pretendo que continue assim.


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☼ Uma última nota pessoal

Eu sei que esse é um blog profissional, mas tem momentos pessoais que influenciam tudo. Mudam perspectivas, prioridades, comportamentos… Esse ano, a pessoa mais importante da minha vida deixou de estar presente fisicamente para estar presente em tudo. E por mais que eu tente encarar isso de maneira positiva, ainda dói pra caralho.

Queria dedicar esse post pra minha vó, d. Yvone. Um post cheio de vitórias, de reconhecimentos de mim para mim mesma, e de vida. Afinal, esse é a maior homenagem que posso prestar à ela: continuar vivendo, sorrindo e vencendo. É por nós, vóvs.

D. Yvone adorava elefantes!

2 Comments on “2023: revendo meus papéis

  1. Parabéns pela coragem de estar sempre em busca do aprimoramento pessoal e profissional. Tantos vão se confirmando com as mesmices. ..
    Feliz demais por saber que compartilhamos uma paixão pela Matemática. Paixão que você expressou tão bem quando disse que dá prazer estudar e resolver problemas.
    E obrigada pelo carinho que você sempre demonstra pela nossa querida bisa Yvone, presente sempre em nossas vidas.
    FELIZ NATAL, amore!
    FELIZ 2024!

    • Obrigada tia <3

      Só não sei sobre a paixão por Matemática, hein... A Álgebra de fato aquece meu coraçãozinho, mas Estatística me dá nervoso hehehe

      Feliz Natal e feliz 2024! <3

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